Algo está vindo.
Sinto que vou ficar doente.
Se vou morrer, não sei.
Mas não será legal.
Acabei de sair do carro.
Vim dirigindo.
Não quero nem saber.
Meus filhos disseram que não era para eu vir vê-los porque eu estava meio mal e velho e blá-blá-blá-blá...
Olha para mim!
Desde quando eu sigo o que me mandam fazer?
Que bosta.
Claro que não sigo.
Se morrer, morreu, fazer o quê!?
Ainda trouxe o almoço.
Gosto de dirigir.
Me sinto livre.
Me sinto em paz.
Consigo ficar sozinho comigo mesmo.
Mas não é contraditório isso?
Busco situações e lugares para ficar sozinho, mas tenho crises de solidão.
Que porcaria!
Velho desse jeito e ainda não consegui resolver isso.
Parecem eternos esses problemas.
Problemas?
Divagações?
Elocubrações?
Sei lá que bosta são essas coisas.
Anos e anos falando de psicologia, desenvolvimento humano, id, ego, inconsciente, sombras e essa porra toda...
Nenhuma resposta.
Só sei que, às vezes, me sinto menos sozinho.
Às vezes parece que não estou sozinho.
Outras vezes, parece que só existe eu no mundo.
Acho que é um daqueles buracos de nós.
Um daqueles vazios que é muito grande e sempre acabo esbarrando nele.
É tipo aquele pedaço de parede mofado na fachada da sua casa.
Toda vez que você chega, você olha para ele.
Ele te irrita, mas você não quer arrumar.
Não tem dinheiro ou paciência.
Te incomoda muito, mas não é mais forte do que o incômodo de ter que arrumá-lo.
Melhor deixar lá.
Faz parte da casa.
Faz parte da rotina olhar para ele sempre que chego.
Deixa lá.
Deixa o mofo.
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