Estou achando que meu antigo Eu morreu prematuro
Morreu antes de se alastrar como um vírus assassino
Morreu antes de conseguir dominar todos os espaços que poderia dentro da minha Alma
Foi morto pelo meu Eu verdadeiro
O Eu gigante encouraçado foi morto pelo Eu criança pelada
Percebi que uma criança em risco de morte pode ser mais forte do que um adulto despreparado
Eu criança assassina
Eu criança forte
Eu criança que não aceitou morrer
Que não aceitou ser destruída, despedaçada, esmigalhada, oprimida, esfacelada, esparramada
Não aceitou e cansou
Si cansou
Criança assassina é Si
Si amadureceu
Si chegou à puberdade da Alma
Passou pelo rito de morte
Passou pelas noites onde foi jogado sozinho e sem armas na floresta escura e desconhecida do destino
Criado na tribo
Treinado em grupo
Em rito, sozinho
Era necessário
Era necessário passar pelo sofrimento
Não para sofrer
Mas para saber que consegue resistir sozinho ao sofrimento
Porque estando sozinho
Si sabe que não está sozinho
Descobre que está protegido
Acolhido
Cuidado
Vigiado
Por ele mesmo
Por sua essência
E descobre que resistirá a tudo
Então, o antigo Eu, que não sabia tomar conta de Si
Morreu
Foi morto
Morto pela criança que ele estuprava e oprimia
Não por vontade própria
Mas por medo
O Eu adulto sabia que a criança era mais forte do que ele
Sabia que se a criança crescesse, Ele morreria!
E ninguém quer morrer
Nem as várias pessoas que são você
Todas elas lutam pela sobrevivência
Mas no fim, apenas a verdadeira pode vencer
A questão é saber QUAL DELAS é a verdadeira
Assim você não correrá o risco de matar a pessoa errada
E então Eu foi morto enquanto sofria
Eu criança embebedou Eu adulto
Eu criança foi mais inteligente
Eu criança precisava crescer e não conseguiria crescer com Eu adulto desfigurado e desestruturado vigiando-a
E assim ela fez
O embriagou
Ao som de música alta e luzes coloridas
Com muito vinho
O suficiente para ele não conseguir se defender
Não conseguir levantar
Não conseguir falar ou se proteger
E na calada da noite
Quando a música cessou
E as luzes se apagaram
Eu adulto pediu água e comida à Criança
A Criança aproximou-se e sorriu
Mas desta vez, com o Eu ali, de quatro, não haveria continuidade na conversa
Não haveria ajuda
E Eu olhou para a Criança e viu que ela não era mais criança
Viu que era um jovem em trapos
Pequeno e fraco, porém forte
E ele não lhe trouxe água e comida, mas sim, lhe trouxe a morte
Com um só golpe, Eu se foi
Sangue escorreu pelo chão e Eu caiu em sua própria poça
Restou Si
Aliviado
Dizendo a si mesmo enquanto tremia
"Respira
Respira fundo
Tá tudo bem
Tá tudo bem
Você estava precisando"
Tirou sua roupa
Enrolou o corpo
Limpou o chão
E jogou tudo fora
Eu já era
Era uma nova Era
Agora é a Era de Si
Depois que eu vomitei
Fiquei ali de quatro no chão
Olhando para a poça
E falei para mim mesmo
"Respira"
E respirei
"Respira fundo"
E respirei
"Tá tudo bem"
"Tá tudo bem"
"Você estava precisando"
E me acalmei
E me confortei
E me senti acolhido
Por ninguém
Exceto por mim
Porque ninguém estava lá
E ninguém estaria
Porque não dá para ninguém estar dentro de mim
Ninguém vai confortar a minha criança
Além de mim
E está tudo bem
Porque eu tinha que aprender isso
Eu tinha que aprender que meu conforto não está nos outros
Meu conforto não virá do outro
Meu conforto deve estar em mim
De mim para mim
No auto-conforto
E era isso que eu precisava perceber
Era isso que meu inconsciente estava procurando nas noites de morte na bebida
Estava procurando um salvador
Alguém que segurasse minha mão e meu coração e dissesse "Tá tudo bem"
E eu encontrei esse salvador
Esse salvador sou Eu
Ontem eu morri mais uma vez
Mais um dia de morte
Ou menos um?
Essa grande morte está demorando muito
Essa grande morte composta de várias pequenas mortes
Esse grande vazio composto de pequenos vários vazios
Mas eu sinto que está acabando
Que a escuridão está próxima do fim
Já consigo ver pequenos pontos de luz ao meu redor
E sei que preciso continuar morrendo
Para seguir com meu renascimento
Só se nasce de novo depois que se morre
Se morre para Si nascer
Me enchi do que não me preencheria
E vomitei o que eu não tinha
Vomitei o que não era meu
O que não me pertencia
E essa é a morte
É a morte de quem não sou
A morte de quem nunca fui
Porque se fosse eu, ainda estaria em mim
A bebida foi minha companhia
A bebida foi meu gancho
Um gancho jogado no poço profundo da minha alma
Um gancho que se prendeu ao que não era meu
E que eu puxei para fora com força
E veio tanta coisa presa nesse gancho
Que me senti aliviado
Assim como todo o lixo da minha alma, o gancho também tinha que sair
A bebida foi meu gancho
O vômito foi meu lixo
E vomitar foi minha forma de tirar de mim tudo isso
Acho que passou
Acho que já foi
Menos um dia sendo quem nunca fui