Depois de 32 anos de escravidão, estou livre
Consegui minha alforria
Porque eu quis?
Não
Fui apenas dispensado dos meus serviços e quando percebi, estava na rua
Sem saber o que fazer
Sem ter para onde ir
Sem ter o que comer, beber e onde morar
Escravo alforriado
Por 3 meses procurei um dono
Por 3 meses apresentei meus serviços a alguns interessados, mas não consegui ser escravo novamente
Ótimo, não é?
Se tivesse achado um dono, não estaria escrevendo isso agora
Estaria lá, de novo, limpando merda e lustrando prata
Como sempre fiz
Estaria entretendo, cuidando, guiando
Tudo isso, sim, eu faço
Sou um escravo inigualável
Mas estou livre
Livre e ligeiramente perdido ainda
Não quero mais um dono
Percebi que não quero, não preciso e não devo ter um
Estou livre por obra do destino e me manterei livre por obra de mim mesmo
Essa semana mais uma parte de mim morreu.
Mais um pedaço se foi.
Mais um pedaço de esperança se desfez no tempo.
Mais uma vez o universo fez as ações alheias comprovarem coisas que eu suspeitava, mas que eu não queria ter certeza.
Mais uma vez se provou que em nossa luta diária, estamos sozinhos.
Se provou que quando você realmente precisar, praticamente ninguém estará lá, mesmo as pessoas que você achava que estariam.
Então, mais uma vez eu fiz o que tanto odeio fazer, mas que já me acostumei.
Eu desisti.
Mais uma vez eu desisti de contar com o próximo.
Não sei mais até quando conseguirei continuar desistindo do ser humano.
Na verdade não é uma decisão totalmente minha, pois a vida te força a se deparar com A Verdade, você querendo ou não.
Só sei que já estou cansado de perder esperança no ser humano.
Já resta tão pouco dele para mim.
Que tristeza.
Cansei de pedir desculpas por coisas que não eram minha culpa
Cansei de ir atrás para resolver
Cansei de ir atrás para seguir com a amizade
Cansei de ir atrás para mitigar o silêncio
Cansei de ir atrás quando ninguém vinha atrás
Cansei de ir atrás...
Por medo de ninguém vir atrás...
E ficar o resto da vida sozinho.