O problema de ser muito profundo é que você se torna muito complexo.
Muito complexo, além do que a maioria das pessoas ao seu redor são.
E nessa complexidade, você se torna amigo de desabafo porque você compreende muito bem as pessoas, mas elas não conseguem te compreender.
E depois de várias tentativas de ser compreendido, você vai desistindo de querer ser compreendido.
Você vai desistindo.
Vai desistindo.
Desistindo.
E desiste.
E fica sozinho.
Cheio de gente ao redor, mas sozinho.
Um grande amigo, tão complexo quanto eu - e o único que conheci nesse nível até hoje - me disse: o topo é solitário.
Mas olha, até chegar aqui, eu não sabia o que era solidão.
Tenho a sensação de que as pessoas só querem sair comigo quando precisam desabafar.
Sou o amigo do desabafo.
Todo mundo acaba tendo funções no mundo e essa ficou para mim.
Válvula de escape psicológico.
É uma função nobre, obviamente.
É uma função, inclusive, que muito poucas pessoas conseguem fazer com sinceridade e cuidado com o outro.
Mas e quando as pessoas não precisam desabafar?
Será que se lembram de mim?
Ou é só isso que veem em mim?
Estou achando cada dia mais que é só isso.
Estou achando que a presença em si, sem o desabafo, não tem tanto valor.
Tem alguém aí?
Tem alguém?
Cadê você?
Cadê vocês?
Onde tá todo mundo?
Sério?
Cadê esse monte de gente que preenche as minhas páginas?
Cadê esse monte de gente dos meus canais?
Existem?
Tão vivos?
Estão vivos?
Cadê?
Cadê a porra toda?
Num tô vendo ninguém.
Num tô vendo porra nenhuma de ninguém!