Já morri tantas vezes nos últimos meses que me sinto uma fênix
E tem uma hora que a gente se acostuma a morrer
E tem outra hora em que a gente torna as mortes uma parte essencial da nossa vida
E nossa vida passa a depender das sucessivas mortes
Porque depois de cada morte, você se sente mais vivo
Quando que eu me perdi fora de mim mesmo?
Quando que isso aconteceu?
Aconteceu e eu nem percebi
Estava tão desorientado que só percebi agora que nem sei mais aonde estou
E nem sei mais como voltar
Mas eu sei aonde deveria estar
A consciência está vindo aos poucos
Ainda estou confuso, mas estou com algumas memórias de como eu era
De como eu deveria ser
De como eu já fui, mesmo sem saber que era
E achava que não era
Sinto que não consigo ser
Não consigo apenas Ser
Muito me impede
Muitos
Muitas
Não sei quem são
Não sei o que são
Não sei quem sou
Justamente por isso
Por não conseguir ser
Por ser apenas o molde
Um molde que me serviu até hoje, mas que não serve mais
Preciso me livrar da casca
Do gesso
Das amarras
Dos pesos
Dos limites
Das barreiras
Dos empecilhos
Das vergonhas
Das dores
Dos rancores
Das tristezas
Das perfeições
Das imperfeições
Dos julgamentos
Meus e dos outros
Preciso me livrar
Estar livre
Me Livrar
Como ato ativo
Ato de me fazer-me livre
Fazer-me livre de tudo que criei para me aprisionar
Fazer-me livre de tudo que construíram dentro de mim
Fazer-me livre das árvores dos outros que foram plantadas no meu jardim
E que secam meu solo
E que drenam meus nutrientes
E que ocupam espaço das minhas próprias árvores
Estou com a chave em minhas mãos
E estou dentro da minha própria cela