Às vezes me pego assistindo
a cenas de atos
que estão na superfície.
Na superfície do meu Eu.
No limite entre Eu e o universo
e me sinto...
estranho.
Esse contato com o mundo
é algo que não estou acostumado.
Na verdade,
me acostumei a ter
APENAS esse contato.
Um contato da pele com o universo...
e nada além disso.
Mas, ainda assim,
quando preciso ter esse contato
da pele com outra pele,
eu estranho.
Me sinto meio mal.
Não consigo direito ter esse simples contato por si só.
Esse contato sem ter algo mais.
Esse contato da superfície sem o vínculo.
Sem a pessoa que estaria
dentro daquela pele.
O contato da pele
sempre
deveria exigir algum vínculo
com o que esteja debaixo daquela pele,
não?
Senão somos o que?
Animais, apenas?
Animais irracionais fazem isso.
Sem vínculo algum do que existe
por debaixo do casco,
dos pelos,
das penas,
das carcaças,
das carapaças.
Fazem. Terminam. Seguem. Acabou.
É isso que somos?
Talvez alguns sejam,
mas eu não consigo.
Para fazer isso,
viro algum bicho que tenha vida mais fácil
do que a de um humano.
Viro um cachorro de madame,
que está sempre lá com alguém
coçando sua barriga
gorda e peluda.
Ninguém quer coçar minha barriga.
Esteja ela gorda,
peluda,
ou gorda e peluda.
Não quero ser cachorro.
Consegui ser humano,
seja por sorteio do universo,
seja por algum motivo específico
ou seja motivo nenhum.
Quero aproveitar tudo que essa espécie pode oferecer,
não?
É tipo ir a um Resort
e ficar apenas dentro do quarto assistindo TV
com as janelas fechadas
e sem sair por 1 semana.
Porque foi? Qual a lógica?
Ficasse em casa!
Aproveite TUDO que o lugar tem a oferecer!
Não?
Então...
porque apenas
experienciar o universo
sem o que está
debaixo da pele?
Não faz sentido.
Eu não quero.
Quero sentir.
Está na hora.
Sim, você havia dito desde o começo.
É incrível como podemos nos enganar, não?
É incrível com o cérebro humano
tão potente,
tão capaz de coisas incríveis,
consegue se enganar tão facilmente.
Mas é claro!
Sendo tão potente assim,
é óbvio que poderia usar todo esse potencial
de forma equivocada.
O cérebro é tão potente,
que é capaz de mentir para si mesmo.
E acreditar cegamente na própria mentira.
É capaz de não ouvir o que não gosta.
Não aceitar o que não acredita.
É incrível!
Me desculpe.
Desde sempre você disse que não estava pronto.
Disse que não estava pronto para amar.
Disse que não estava pronto para me amar.
Para se envolver.
Para ter algo além do que tivemos.
E eu,
como sempre,
me iludi.
Me iludi porque amei.
E ainda amo,
não adianta!
Por mais incrível que pareça,
nosso curto tempo
foi tão longo quanto a eternidade.
Construímos neste mundo
o que talvez já tivéssemos
construído em outro lugar.
Não sei!
Foi tão... real!
Foi tão... sincero!
Mas no fim
nós dois nos enganamos.
Nós dois quisemos algo mais,
mas não estamos prontos.
Falta um pouco ainda.
Para mim.
Para você.
Para nós.
Mas estou com o coração tranquilo.
Tudo que tivemos foi tão bom
que nunca esqueceremos,
mesmo que nos esqueçamos.
Sei que isso não vai acontecer,
mas quem sabe
se não me enganarei
de novo?
Quem sabe?
E de qualquer forma,
precisávamos disso tudo.
Precisávamos saber que existe algo mais para nós.
Precisávamos saber que existia... “Nós”... para nós.
Então,
quem sabe,
tudo isso não foi bom para pararmos de nos enganar
com outros que queriam
(e queiram)
nos iludir?
Quem sabe?
Quem sabe...
Eu te toco.
Você me toca.
Seu toque é tão bom.
Sua alma é tão pura!
Desculpe por ter perdido o controle.
Você sempre pareceu precisar de alguém
para assumir o controle.
Alguém para
dar um rumo ao navio.
Alguém para
assumir o comando do barco à deriva.
E eu sei que não é para sempre.
É só por um tempo.
Até você conseguir pegar de volta o comando.
Daí nos revezamos, ok?
E vamos juntos.