Se eu morresse,
sim,
gostaria de morrer
dentro de você.
Dentro dessa
INTENSIDADE.
Dentro disso tudo que eu
AINDA
acho que
não sou.
AINDA.
Na verdade,
SOU,
porém,
ainda
não manifesto.
Inteiramente.
E, como?
COMO?
Como seremos Dois?
Sendo apenas...
Uns?
Temos que ser dois UMs e não UNS!
Vai!
Seja comigo.
Sejamos Dois.
Sejamos Sóis!
Sejamos Nós.
Sejamos dois Sóis.
Juntos.
Tem pessoas que
apenas brilham quando
todos ao seu redor
estão sem luz.
E existem pessoas
que brilham ainda mais
junto ao brilho
de outros ao seu redor.
E de modo geral
na minha vida inteira
senti que minha luz
foi sugada por um buraco negro.
Nos últimos meses
me senti
totalmente preso
à sua gravidade.
Felizmente,
certo dia,
consegui me soltar da sua órbita.
Mas quando percebi,
estava morto.
Um corpo sem vida.
Sem rumo.
Sem luz.
Morto.
E no meio do caminho
encontrei outros corpos que estavam
na mesma situação que eu.
Corpos que também foram lançados ao léu.
Sem rumo,
sem luz,
sem vida.
Eu,
estando assim,
sem luz e sem energia própria,
quis brilhar e ser sol.
Atraí esses corpos com meu reflexo
proveniente de outros sóis próximos.
Lhes enganei
como se a luz fosse minha;
como se eu fosse fonte geradora de algo.
Como se eu fosse capaz de lhes dar a vida
ou a energia necessárias
para tornarem-se,
também,
os sóis que tinham potencial de ser.
Por muitos anos me iludi
e fui iludido (por mim mesmo).
Eu também quis brilhar com a luz de outros corpos.
Também achei que isso
me transformaria num sol.
Achei que eles me transformariam
em um sistema solar com um planeta fértil e belo,
repleto de vida única no universo.
Estava errado.
Muito.
Após muitos e muitos ciclos,
ao perceber meu erro,
tive que abrir mão.
Teria que soltar os corpos celestes
que eu enganava.
Eu não queria
largá-los no vazio.
Eu não queria
ficar sozinho novamente.
Sem vida.
Sem luz.
Gélido.
Foi então que,
antes de soltá-los de minha órbita,
fui atingido.
Um enorme cometa em chamas
se chocou comigo.
Tudo explodiu.
Pensei que seria meu fim.
Pensei... mas não foi.
Foi apenas meu começo.
Na explosão,
comecei a brilhar.
Energia
que eu nem sabia que existia em mim
começou a irradiar um poder infinito.
Tornei-me Sol.
Agora meu potencial estava despertado
e foi aí que percebi
que o brilho não pode ser do outro.
A vida deve estar em mim.
Agora tenho planetas em minha órbita.
Alguns são extremamente férteis.
Outros, nem tanto.
Mas também tem sóis.
Sóis que ainda não brilham
mas que farei questão,
em vez de sugar ou ofuscar suas luzes,
de apenas deixá-los brilhar.
Ao seu tempo.
À sua intensidade.
À sua vontade e necessidade.
Eventualmente
alguns sairão de minha órbita
e terão seus próprios sistemas.
Outros
ficarão comigo
e teremos um sistema nosso.
Que tal sermos
um sistema de dois Sóis?
O problema de almas fragmentadas
é que elas estão sempre se distribuindo.
Ou para fora,
ou para dentro.
Quando explodem para fora,
querem entregar seus pedaços
para qualquer um
que esteja passando.
Quando explodem para dentro,
começam a sugar e destruir
tudo ao seu redor,
como um buraco negro.
Quer saber o que acontece
quando duas almas fragmentadas
se encontram?
Se quiser,
olhe para nós.
Eu explodi para dentro.
E você para fora.
Você dá para qualquer um
e eu consumo todos ao meu redor
até não sobrar mais nada deles.
Não é FASCINANTE isso?
Você me deu tudo que conseguiu...
E eu te consumi até a última gota.
Pronto!
Acabou!
Foi muito rápido.
Estamos tão explodidos
que te consumi em poucos meses!
E você,
tão frágil e fragmentado,
não me nutriu por mais do que
esse curto período.
Mas,
e agora?
E agora?
...
Eu quero mais!
E você?