Hoje é aniversário dos nossos netos.
Não sei ao certo a idade deles, mas são novinhos.
Mentira!
Ainda lembro da idade e dos nomes deles.
Óbvio.
Sou o velho das piadas sem graça...
Para mim são engraçadas, pelo menos.
Isso que importa.
No fim das contas, todos riem quando eu rio.
Podem não rir pela graça, mas riem pela diversão.
Ou para eu não parecer um idiota...
Já chorei muito.
Já sofri muito.
Sou assim, não adianta.
Me acostumei a ser sempre INTENSO.
Por isso estou com uma pessoa tão INTENSA.
Somos profundos demais.
Somos INFINITOS.
Nunca terminaremos de nos explorar.
Se vivêssemos mais 500 anos, continuaríamos não nos compreendendo até lá.
Nos explorando.
Nos descobrindo em nossas próprias profundezas.
As crianças pelo menos riem das minhas piadas.
Os adultos torcem o nariz, mas sempre riem.
Tá tudo bem.
Temos nosso papel no mundo, sempre.
...
Seguro sua mão e nos beijamos.
Fique aqui comigo.
Vamos ver as crianças brincarem na piscina.
A juventude está ali.
A vida renasce.
Como somos importantes para o futuro.
Passamos por tudo isso e aprendemos.
Temos tanto a ensinar.
Por isso nunca paro de escrever.
Se eu falasse, tudo se dissiparia ao vento.
Escrevendo pelo menos existe a chance de lerem no futuro.
Filhos dos filhos dos filhos poderão aprender.
Reviver.
Viver.
Seguir.
Continuar a humanidade.
Somos muito importantes.
Nós.
Pessoas.
Updated: Aug 18
Eu nunca gostei de Natal.
Que data odiosa onde as pessoas fingem ser felizes e as famílias fingem ser unidas.
*Risos*
Sempre vem essa memória do que eu achava do Natal.
Sempre vem essa ideia do que minha vida foi.
Minha infância começou ótima e foi piorando.
Fui perdendo a vida enquanto crescia, até virar um jovem NADA.
Um jovem entregue à morte.
Um corpo vivo.
Até que ele chegou.
O primeiro Natal nós nem nos falamos.
Ele sumiu por meses!
Claro.
Eu que terminei com ele.
Tá certo que não achei que ele sumiria, mas o desgraçado DESAPARECEU.
Eu sabia que voltaria, mas não sabia quando.
E nem como.
No Natal eu achei que ia me ligar. Aparecer em casa com um peru que ficou congelado por meses no freezer.
Aquele jeito louco dele de aparecer do nada.
Mas... nada.
Silêncio.
Foi o mesmo lixo de sempre.
Os outros foram cada vez melhores, já que ele estava de volta.
Mas olha... sempre odiei o Natal!
Descobri que no fim das contas não é a data que é ruim.
São as pessoas com quem você passa que fazem a diferença.
O Natal não é a data.
São as pessoas.
Ele tem o costume de fazer um Natal especial só com amigos íntimos antes do Natal em família.
Fazemos há anos esse Natal dos amigos.
Apenas as pessoas que escolhemos para ser nossa família.
É incrível!
Eu AMO esse Natal!
É uma das datas mais especiais.
Claro que nos últimos anos sempre tem uma pessoa a menos, mas tudo bem.
Já nos acostumamos.
A pessoa sempre é lembrada.
Sempre vira assunto.
Daqui a pouco seremos nós.
Daqui a pouco seremos assunto de Natal.
Dos outros.
Como aquelas comidas ruins de casamento.
Todos comem e riem na hora, mas depois falam que estava tudo seco e sem gosto.
O que falarão de nós?
Que éramos secos e sem gosto também?
Melhor eu comer antes de virar comida.
Algo está vindo.
Sinto que vou ficar doente.
Se vou morrer, não sei.
Mas não será legal.
Acabei de sair do carro.
Vim dirigindo.
Não quero nem saber.
Meus filhos disseram que não era para eu vir vê-los porque eu estava meio mal e velho e blá-blá-blá-blá...
Olha para mim!
Desde quando eu sigo o que me mandam fazer?
Que bosta.
Claro que não sigo.
Se morrer, morreu, fazer o quê!?
Ainda trouxe o almoço.
Gosto de dirigir.
Me sinto livre.
Me sinto em paz.
Consigo ficar sozinho comigo mesmo.
Mas não é contraditório isso?
Busco situações e lugares para ficar sozinho, mas tenho crises de solidão.
Que porcaria!
Velho desse jeito e ainda não consegui resolver isso.
Parecem eternos esses problemas.
Problemas?
Divagações?
Elocubrações?
Sei lá que bosta são essas coisas.
Anos e anos falando de psicologia, desenvolvimento humano, id, ego, inconsciente, sombras e essa porra toda...
Nenhuma resposta.
Só sei que, às vezes, me sinto menos sozinho.
Às vezes parece que não estou sozinho.
Outras vezes, parece que só existe eu no mundo.
Acho que é um daqueles buracos de nós.
Um daqueles vazios que é muito grande e sempre acabo esbarrando nele.
É tipo aquele pedaço de parede mofado na fachada da sua casa.
Toda vez que você chega, você olha para ele.
Ele te irrita, mas você não quer arrumar.
Não tem dinheiro ou paciência.
Te incomoda muito, mas não é mais forte do que o incômodo de ter que arrumá-lo.
Melhor deixar lá.
Faz parte da casa.
Faz parte da rotina olhar para ele sempre que chego.
Deixa lá.
Deixa o mofo.