Um nada cheio de descobertas.
O nada pode estar
tão cheio
de tantas coisas,
não?
O nada é,
na verdade,
toda
e qualquer
possibilidade.
O nada é,
além de tudo,
o TODO.
O nada
é espaço suficiente
para que possamos
escolher o que queremos
ter nele.
Às vezes
o vazio é repleto de algo
que é difícil
de se encontrar.
Se pensar bem,
o vazio está repleto de...
esperança.
Está repleto de
POSSIBILIDADES.
Então
o que podemos colocar
no vazio?
O que existem
de possibilidades no vazio
para se preencher
com nossas esperanças?
Quais são
nossas esperanças de existência
depois do furacão?
O que queremos fazer desta vez?
O que vamos construir sobre o solo seco?
O que podemos criar
sobre o que
já não existe mais?
Que tipo de amor
queremos fazer crescer
no solo fértil
e recém adubado
pelo sangue do passado?
Então
o que fazer
senão
reconstruir?
Reconstruir
a alma
despedaçada?
Começar
quase do “zero”
a moldar,
da pedra bruta,
a essência
antes
praticamente inexistente.
Não é nada fácil.
É difícil fazer isso
várias e várias
vezes seguidas.
É difícil
se manter íntegro
quando é
de nossa natureza
o ato
de se despedaçar
para procriar.
Não podemos esquecer
que somos,
antes de humanos,
meros animais.
Somos
macacos
inteligentes.
Tão inteligentes
que conseguimos nos enganar
a ponto de nos matarmos
por pensamentos irracionais,
automáticos
e idiotas.
E no fim o que temos de nós?
O que temos,
senão ímpetos irracionais
justificados por
racionalidades
imbecis?
Daí pensamos
no amor
e nos vínculos que criamos
como se fossem atos
totalmente lógicos e naturais...
mas...
será mesmo?
Como vamos construir algo
se nem sabemos
o que queremos construir?
Como vamos
nos construir
se nem sabemos
quem somos?
O que há de ser construído
com base
no inexistente?
Talvez...
um...
nada!
Quando você
tenta juntar
o que sobrou
de um coração
explodido e misturado,
não existe pá
ou sacos de lixo
suficientes
para tanta
destruição.
Você não sabe o que
é seu
e o que era
do outro.
Não sabe mais diferenciar
o que é original
e o que foi alterado.
Não existe mais
conto de fadas.
Não existe mais
esperança.
Não existe mais
amor.
Não existe mais...
nada.
Apenas a dor.
A imensa
dor de olhar ao redor,
dentro de si,
e não ver
mais nada em pé.
Mais nada intacto.
Mais nada
que tenha resistido
ao que passou.
E aí vem,
além da dor da perda,
a dor da reconstrução.
A dor
de saber que será necessário
se reconstruir
para poder ter
qualquer coisa
de novo.
E o pior de tudo?
Ter certeza que
ou você faz isso,
ou você morre.
Morre junto
com sua
alma.